quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Mas quem julgam que são?

Nas últimas semanas assistimos a dezenas de debates sobre a legalização do casamento entre duas pessoas do mesmo sexo, pelo menos até a altura em que a nova lei foi aprovada pelo parlamento, mais precisamente pela esquerda parlamentar. Não posso deixar de dizer que achei uma certa graça ao grupo de pessoas, que supostamente católicas e por consequência defensoras da igualdade para todos os seres humanos, que tentou incansavelmente recolher o máximo de assinaturas possíveis na tentativa de permitirem à população Portuguesa a decisão da permissão ou não casamento homossexual. Mais interessante achei ainda a justificação que algumas pessoas me deram quando eu as questionei do motivo que as movia para fazerem tal peditório (o das assinaturas). "O casamento é entre um homem e uma mulher e ponto final!" Agora eu pergunto...Como é que as pessoas que recolheram assinaturas e outras que mais, se podem achar no direito de retirar a possibilidade que o primeiro ministro deu aos pobres dos infelizes que tão discriminados são, de se poderem casar? Possibilidade porque a verdadeira razão que os fez dar ao dedinho foi o facto de terem mais uma possibilidade de rezar aos seus santinhos para não permitir que tal acontecesse. Mas onde é que já se viu uma coisa destas? E se por acaso tivessem um filho que se assumisse em frente dos pais? Escondiam-no em casa?

Bem, o meu motivo de contestação é o seguinte: Nós Portugueses vivemos numa democracia. Esta democracia é, como o nome diz, um regime onde todos devem ter os mesmos direitos e os mesmos deveres. Como é que se pode negar algo deste género a alguém? Esta questão não é sequer comparável à questão que tanto pó e burburinho levantou, a da interrupção voluntária da gravidez! Na IVG, quer dizer, na despenalização da mulher que pretende realizar a interrupção voluntária da gravidez, tratam-se de vidas em jogo! Julgo que é possível pensarmos em negar essa possibilidade, uma vez que estamos a falar de vidas. Não quer dizer que seja contra ou a favor, simplesmente quero mostrar e justificar que se tratam de questões diferentes e de diferentes assuntos. E esta sim, esta foi uma questão digna de ser referendada. No caso do casamento entre pessoas do mesmo sexo, a única coisa que estamos a falar é de um direito à igualdade. Por esta ordem de ideias, também se deveria proibir o casamento entre duas pessoas de duas etnias diferentes. Etnias e não raças, porque todos os humanos desde os Bosquímanos do Calaári até aos Finlandeses loiros de olhos azuis, fazem parte da mesma raça, a raça Humana. No século XVIII o casamento era apenas entre indivíduos caucasianos. Acham que hoje podemos proibir o casamento entre um Bosquímano e uma Finlandesa? Julgo que não. Voltando um pouco atrás e referindo a nossa democracia, refiro e relembro que elegemos um Primeiro-Ministro, que por sua vez nomeou uma série de Ministros para tentar governar Portugal. A nossa democracia é uma democracia representativa, ou seja, nós elegemos directa e indirectamente um grupo de pessoas que nos representam e que vão decidir o rumo do País, na tentativa de o levar "o barco a bom porto". Pelo contrário, e era aqui que queria chegar, não vivemos numa democracia participativa, onde poderíamos opinar, sendo levados em consideração, aquando da construção da constituição. Será que era possível ser parte activa na elaboração das leis deste país? Não, Portugal e os Portugueses ainda não sabem e nem querem e muito menos conseguem "remar todos para o mesmo lado", ainda é cada um por si e muito pouco por todos. Alem disso estou certo que se houvesse um regime político apropriado para Portugal, esse seria o do "Chicoespertismo", onde a família mais conhecida seria a família Cunha.